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Dermatite atópica tem cura?

Por: - Dermatologista Pediátrica - CRM/SC 10414 | RQE 5948 | RQE 21133
Publicado em 30/05/2017 - Atualizado 07/02/2019

Dermatite atópica tem cura? Antes de mais nada, é preciso entender como surge a doença e de que forma ela afeta a pele de crianças, adolescentes e adultos.

Em resumo, a dermatite atópica, também chamada de eczema atópico, é uma doença de pele muito comum, caracterizada por vermelhidão, inflamação, ressecamento e coceira. Afeta, principalmente, as crianças. Cerca de metade das pessoas diagnosticadas com dermatite atópica apresenta os primeiros sintomas aos seis meses de vida. A fase mais crônica ocorre até os cinco anos de idade.

A pele é a primeira barreira do sistema imunológico. É o órgão que tem o maior contato com o meio externo e, portanto, o que sofre as maiores agressões. Qualquer alteração nessa barreira propicia o surgimento de doenças, como a dermatite atópica.

A condição ocorre, com maior frequência, em pessoas que possuem uma alteração no gene da filagrina, uma proteína que aumenta a adesão entre as células epiteliais. Quando há falha nesse sistema de barreira, a cútis fica mais suscetível ao contato com substâncias externas, que podem provocar reações na pele.

Além disso, sem a ação da filagrina, o tecido cutâneo tende a perder água mais facilmente. Então, quanto mais quente o ambiente estiver, maior será o ressecamento. A pele, quando ressecada, coça muito. A cena de uma criança se coçando, inclusive enquanto dorme, repete-se constantemente, caso ela sofra de dermatite atópica e a doença não esteja sendo tratada.

Grandes vilões, em caso de dermatite atópica, são as bactérias e as infecções de pele oportunistas. Os Staphylococcus aureus são um dos micro-organismos que se aproveitam do defeito na barreira cutânea para penetrar profundamente nela. Por isso, são considerados um dos maiores desencadeantes da doença.

No corpo, essas bactérias ligam-se à imunoglobulina E (IgE), um anticorpo relacionado à imunidade que é produzido em maior quantidade na tentativa de proteger o organismo. Essa reação ocorre cada vez que a pele tem contato com algo que a irrita. Por isso, as crises de dermatite atópica se tornam recorrentes.

Como a imunoglobulina E permanece no sistema, mesmo após os sintomas terem desaparecido, ela é considerada um importante indicador de dermatite atópica. O anticorpo pode ser identificado no sangue por meio de um exame e o resultado permite distinguir as diferentes substâncias associadas à doença.

É possível afirmar que a dermatite atópica tem cura?

Muitas pessoas confundem-se e acreditam na ideia de que a dermatite atópica tem cura porque a doença é cíclica, ou seja, os sintomas surgem de tempos em tempos, quando a pele entra em contato com o que provoca as crises. Nesse intervalo, os indícios permanecem controlados. Como não há coceira, nem vermelhidão, presume-se que a doença tenha sido curada.

No entanto, a dermatite atópica é uma reação da pele, provocada por agentes externos, que não tem cura, mas que pode ser contida com o uso de medicamentos para diminuir a coceira e a irritação.

Em quais partes da pele aparecem os sintomas da doença?

Em bebês, a dermatite atópica, geralmente, inicia com áreas irritadas e ressecadas nas bochechas e ao redor da boca. Em crianças maiores, as lesões se localizam, principalmente, nos braços e pernas, sempre acompanhadas de coceira. Em adolescentes, as feridas são mais frequentes nos joelhos, cotovelos, mãos, pés e ao redor dos olhos.

Em algumas crianças, é possível identificar, facilmente, os fatores que desencadeiam as lesões e a coceira características da dermatite atópica, enquanto em outras, nenhuma causa consegue ser especificada. Além disso, esses fatores podem mudar ao longo dos anos.

Por isso, é fundamental que seja identificado o que suscita as crises. Uma forma de fazê-lo é anotar tudo o que foi feito e utilizado no dia anterior ao aparecimento da dermatite e observar se uma nova crise acontece quando se repete o uso de alguma das substâncias.

Causas da dermatite atópica

A pele de quem tem dermatite atópica é mais sensível e pode ficar irritada a partir do contato com diversos agentes, como:

  • ácaros;
  • poeira;
  • perfumes;
  • plantas;
  • pelos de animais;
  • alergia ao pólen das flores;
  • mofo;
  • animais;
  • materiais ásperos;
  • loções e/ou sabonetes;
  • produtos de limpeza;
  • roupas de lã;
  • tecido sintético;
  • baixa umidade do ar;
  • calor e transpiração;
  • estresse emocional
  • certos alimentos;
  • fumaça de tabaco;
  • banhos excessivos sem hidratação;
  • utilização de amaciante na lavagem de roupas.

A dermatite atópica é causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. As circunstâncias genéticas estão relacionadas às proteínas que formam a barreira da pele (sobre as quais já falamos no início do artigo).

Quando essa barreira está danificada, a pele perde hidratação mais facilmente, tornando-se mais seca, irritável e hipersensível. Além disso, também fica mais propensa a infecções por bactérias, vírus e fungos.

O sistema de defesa da pele acometida pela dermatite atópica reage, ainda, de forma diferente aos fatores do ambiente. Quadros de rinite alérgica e asma podem estar presentes com maior frequência em indivíduos com a doença. Algumas crianças também apresentam alergia alimentar.

Existem exames de alergia que podem ser solicitados para auxiliar na descoberta dos fatores alergênicos de cada pessoa com dermatite atópica.

Tratamento para dermatite atópica

O tratamento da dermatite atópica tem por objetivo prevenir o ressecamento da pele, tratar as feridas, minimizar a coceira e evitar os fatores ambientais desencadeantes das crises.

A principal maneira de melhorar os sintomas da dermatite atópica é a hidratação da pele. Para isso, deve-se utilizar óleos ou cremes hidratantes após o banho e evitar banhos muito quentes e prolongados.

Esses cuidados devem começar na infância e continuar na vida adulta. A doença pode surgir em diferentes graus, que variam entre o suave e o muito grave. Por isso, os pais e a criança devem, sempre, seguir as recomendações do médico. Qualquer atitude diferente das que tenham sido sugeridas pelo dermatopediatra pode provocar o surgimento de uma nova crise.

Os sintomas devem desaparecer, progressivamente, a partir do segundo dia de tratamento. Caso eles se agravem ou a melhora não ocorra conforme o esperado em um período de até sete dias, o indicado é procurar a orientação do especialista.

A aplicação terapêutica de raios ultravioleta e o uso de bandagens úmidas são, também, algumas formas de tratar a dermatite atópica. Para solucionar as feridas na pele, são utilizados anti-inflamatórios tópicos, que devem ser prescritos pelo dermatopediatra.

Um antialérgico pode ser associado aos demais cuidados para melhorar o sono durante os períodos de crise. À noite, a coceira costuma ser mais intensa.

Um paciente com dermatite atópica grave exige acompanhamento constante e, algumas vezes, a utilização de medicamentos mais específicos para controle da doença.

Dicas para controlar os sintomas da dermatite atópica

Evitar, ao máximo, coçar a pele

As crianças, principalmente, sentem muita coceira e as áreas afetadas soltam uma espécie de líquido, em uma fase da doença caracterizada pelo espessamento da pele. Neste caso, coçar a área só piora as coisas. Quanto mais a criança coloca as mãos no local, mais machucada fica a pele, o que causa mais coceira e cria um círculo vicioso difícil de ser quebrado.

Além disso, infecções oportunistas podem aparecer em decorrência das lesões, o que agrava ainda mais a situação. Ensinar disciplina e autocontrole às crianças é fundamental.  E é imprescindível manter as unhas sempre aparadas.

Muita precaução durante as estações do ano

O frio ou o calor podem piorar ou desencadear as crises de dermatite atópica. É recomendável, portanto, fazer o possível para manter a temperatura amena em casa. No inverno, o quadro piora porque a pele tende a ficar mais ressecada e os banhos são mais demorados, com a água em uma temperatura mais elevada. Por isso, é necessário redobrar os cuidados e a hidratação nesse período. E, na hora de proteger as crianças do frio, é preferível utilizar roupas de algodão.

O verão também exige atenção, já que as crianças transpiram mais e o suor facilita o ressecamento da pele. Além disso, o próprio ar condicionado contribui para a secura. A hidratação continua indispensável, especialmente quando os pequenos brincam no mar ou na piscina. Banhos de sol são bem-vindos, mas sem exageros e com protetor solar.

Dê atenção aos estresses emocionais

A dermatite atópica também causa feridas psicológicas. E o estresse é um desencadeador da doença. É fundamental que os pais conversem com os professores e diretores do colégio do(a) filho(a), explicando a situação. Isso ajudará aos mestres a minimizar o estresse causado pela doença. Não é raro que haja preconceito das outras crianças, que pensam que a doença é contagiosa.

Professores e alunos precisam se conscientizar de que essa é uma visão equivocada e impedir brincadeiras que estigmatizam a criança que tem dermatite atópica. Assim, ela não precisará mascarar seu problema sempre se vestindo com roupas de manga comprida.

Siga o tratamento à risca

Só com a ajuda de um dermatopediatra é possível controlar e entender que a dermatite atópica tem cura. E deve haver comprometimento de toda a família no tratamento. É necessário seguir as recomendações do especialista, que podem incluir:

  • a retirada de “bichinhos” de pelúcia do convívio com a criança;
  • conservar o quarto do pequeno arejado;
  • aderir às pomadas, comprimidos, e todos os medicamentos prescritos.

Quando a autoestima da criança está comprometida, a psicoterapia pode ser uma alternativa para resgatá-la.

Evitar alguns alimentos

Assim como algumas crianças têm alergia à proteína do leite, outros alimentos podem desencadear o aparecimento de lesões na pele. Enlatados, ovos, cítricos, chocolates, alguns corantes, conservantes e hormônios lideram a lista de desencadeadores. Caso haja suspeita, pode-se solicitar exames de sangue e testes de contato para descobrir se a criança é alérgica a determinados alimentos.

Tenha plena consciência do problema

A dermatite atópica tem cura. Mas, na medida em que a criança cresce, é essencial que ela assuma a responsabilidade com os cuidados diante da doença. Os pais devem explicar, sempre que possível, o que é a dermatite atópica e ensinar, desde cedo, as medidas que ajudam a evitar as crises. Caso as crianças tenham consciência, por exemplo, de que um banho com água morna e um bom hidratante amenizam os sintomas, irão se sentir mais seguros para tratá-la e aproveitar as atividades do dia a dia.

A seguir, conheça outras dicas para controlar as crises de dermatite atópica:

  • o banho da criança tem de ser rápido. Não deve durar mais do que cinco minutos.
  • Higienizar o corpo somente uma vez ao dia.
  • A temperatura da água deve ser baixa, pois quanto mais quente estiver, mais a pele perderá hidratação.
  • Usar emolientes durante o banho (óleos que ajudam a pele a manter o pH próximo ao natural e a protegem de agressões externas).
  • Não usar esponjas, mas, sim, as próprias mãos.
  • Usar sabonete neutro.
  • Depois do banho, secar a pele com delicadeza, sem esfregar a toalha.
  • No máximo três minutos após o banho, aplicar, em todo o corpo, o hidratante indicado pelo dermatopediatra.
  • Evitar o contato da pele com detergentes, cosméticos coloridos e perfumados, produtos de limpeza, bijuterias e qualquer outro agente irritante.
  • Caso os hidratantes causem ardência devido à maior sensibilidade da pele, pode-se usar vaselina semi-sólida ou líquida no lugar do creme.
  • Aplicar protetor solar sempre que for à piscina e, quando sair da água, secar a pele com a toalha e aplicar o creme hidratante imediatamente.
  • Evitar usar amaciantes para lavar as roupas.
  • A aplicação de compressas frias pode ajudar a aliviar a coceira.

Material escrito por:
Dermatologista Pediátrica - CRM/SC 10414 | RQE 5948 | RQE 21133

A Dra. Marice Mello dedica-se à pediatria desde a graduação em medicina na UFSC. A médica é especialista em pediatria, pelo Hospital Infantil Joana de Gusmão, e tem especialização em dermatologia pediátrica, pela UFPR. É membro da Society Pediatric Dermatology, da Sociedade Latino-Americana de Dermatologia Pediátrica e da Sociedade Brasileira de Pediatria.   Ver Lattes

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